quarta-feira, maio 31, 2006

Delirius Futebolens

Se existe situação em que me exaspera a mentalidade portuguesa é no que concerne ao futebol, nomeadamente quando chega as competições internacionais. É nessa altura que a afamada “Futebolite Aguda” aflige o país inteiro, mergulhando-o nas trevas (devidamente adornados de bandeiras) em que todos os assuntos importantes e prementes se transformam de súbito em listas de compras de natal para primos em 3º grau numa família desavinda.
Como não podia deixar de ser o Mundial da Alemanha não foge à regra. Desde programas especiais dedicados à selecção, onde ficamos a saber que as cuecas dos uniformes da equipa são delicadamente lavados com Água do Luso a 30º centígrados por uma matrona oriunda da Beira Baixa, passando por inúmeros artigos que procuram dissecar a estratégia de Scolari para a convocatória da selecção (1), os media embargam numa exaustiva cruzada futebolística. Cruzada essa responsável, quiçá, por esta dedicação nacional doentia aos jogadores da selecção e pelo facto de se depositar tanta esperança na sua prestação, tornando-os deuses dos destinos da nação.
Na verdade estes não passam de estrelas mimadas com salários excessivos tendo em contas as suas reais capacidades. Arriscaria até dizer que, baseado em algumas das suas exibições, até eu conseguia fazer aquilo com uma perna atrás das costas. Contando que tivesse iniciado os treinos com 2 anos de idade e que a dita perna não fosse uma das minhas. Também não descarto a possibilidade de recorrer ao doping, desde que seja para fins recreativos.
Mas regressando à questão da cobertura mediática; como se não bastasse o excesso de atenção dedicada ao evento em si, ainda temos parte significativa do espaço jornalístico dedicado à crítica dessa mesma obsessão, como por exemplo Clara Pinto Correia que nos brinda com prosa profunda e analítica como: “Já estou farta da gaita do Mundial”. E logo quando pensávamos que a língua portuguesa não tinha mais para oferecer.
Será que estes tipos não se apercebem que ao tecerem estas críticas só contribuem para a exacerbação do assunto e para o consequente agravamento do problema?
Só nos faltava que aparecesse alguém a perder o seu tempo, e o dos outros, a questionar o interesse das críticas aos excessos jornalísticos relacionados com o Mundial para atingirmos a desgraça total.
Vejam lá isso e depois não digam que eu não avisei.

(1) Tome em atenção que estes dados são ficcionados, como é óbvio, as cuecas dos jogadores são bem tratadas, sim senhora, mas Scolari não tem estratégia nenhuma.