terça-feira, outubro 19, 2004

Figurantes

Enquadram-se dentro do espírito deste blog, o esclarecimento de dúvidas existenciais estimulantes e pensamentos profundos. O post que se segue cai longíssimo desses parâmetros. Talvez seja produto do congelamento salarial na nossa empresa.

Um tema que me persegue faz algum tempo, é o dos figurantes.
Já alguma vez deram convosco a perguntarem-se como será a vida de uma daquelas figuras que vemos no fundo das cenas?
Quais serão as suas angústias e sonhos? Será que sentem dor e fome?
Serão capazes de apreciar uma gota de chuva, percorrendo a sua face numa carícia?
Para descobrir as respostas a estas e outras questões, fomos falar com o S.I.F.A.O. (Sindicato Internacional dos Figurantes Anónimos Organizados).
Eis aqui excertos da entrevista com José Incógnito, dirigente do sindicato.

fumos – Existe realmente justificação para a existência de um sindicato de figurantes?
J.I. – A sua pergunta espelha a atitude ignorante da sociedade com que lidamos quotidianamente e desde tempos remotos.
fumos – Como assim?
J.I. - Em quase todos os acontecimentos históricos encontravam-se presentes filiados do nosso sindicato, mas deles não reza a História.
fumos – Poderá fornecer exemplos específicos?
J.I. – Por exemplo no assassinato de Júlio César tínhamos presentes no local, um rapaz a brincar na neve e uma idosa a atravessar a passadeira, você ouviu falar deles? Não, pois não?
fumos- Sim, é verdade escapou-nos, mas nós nessa altura estávamos a fumar umas brocas avantajadas e andávamos um pouco distraídos.

fumos – A nível de formação como é? Existem escolas para figurantes?
J.I. – Sim, Sim. Um verdadeiro figurante passa por 10 anos de formação geral. Onde aprendem coisas como andar sem objectivo, a falar sem proferirem um único som e conduzirem às voltas. Temos ainda alguns cursos de especialização.
fumos – Tais como?
J.I. – Cursos para segurar ficheiros e documentos inúteis, como estar na Assembleia da República e mais recentemente como ser defesa da selecção russa.

fumos . E para além da vida profissional como é que se processa o vosso quotidiano?
J.I. – É muito complicado, lidamos com problemas familiares graves. Por exemplo, ao almoço a minha mulher e os meus filhos conversam e discutem enquanto eu fico no background a fingir que estou à espera da chamada de embarque para um voo. É muito complicado.
fumos – Mas deve ter os seus momentos compensadores?
J.I. – Sim, não sofremos tanto nas repartições públicas pois estamos habituados a ser ignorados e também alguns de nós conseguem chegar a Presidente do EUA.
PN