sábado, julho 30, 2005

Parografia inversa

E este é precisamente o ponto a que eu quero chegar. Uma das vantagens do reconhecimento público é a vaidade no sentido em que, sendo esta guiada pelas instituições morais, tende a ser atractiva para a maioria. Ora, para grande pena minha isto, não acontece com inúmeros autores, o que leva claramente a situações de exploração desumana, imortalizadas nas famosas frases
"I've got the brains, you've got the looks - Let's make lots of money" ou "A tua escrita provoca orgasmos múltiplos".

Esta realidade benfeitora leva-me a reflectir sobre o poder que os escritores de obras literárias, historiadores, cronistas ou blogueiros possuem num mundo onde os valores são cada vez mais incutidos através da escrita, seja ela para a TV, rádio, jornal, livros ou internet. E assusta-me que, de um modo consciente, sóbrio, ou não, os autores se deixem ludibriar pela técnica da força e utilizem esse poder para proveito pessoal ou alimento de estímulos acanhados que reflectem os valores que alguns, momentaneamente, parecem possuir e, consequentemente, comunicar. Um prematuro sentido de vantagem, decerto nascido pela dedução que a atenção social leva o comum mortal a fantasiar mais eficaz e regularmente sobre eles, resulta em decepção e desconfiança, sentimento aliás comum quando os objectos são modelos ou políticos.

A literatura é provavelmente a melhor droga do mundo. De uma assentada só é capaz de estimular a nossa imaginação a níveis impensáveis, levar-nos para mundos outrora desconhecidos, dar-nos a conhecer novas culturas e manter-nos acordados para a vida. Mas tal como no mundo das drogas, existem extremos. Por um lado temos aquela que é sublime e justamente aclamada pela maioria, e por outro, aquela que faz rir pela sua ineficiência. Já dizia o sô Jaquim que "The pen is mightier than the sword".

NG