sexta-feira, novembro 05, 2004

Fumaças Cinematográficas #1

Esta eu até ia deixar passar (sabem como é apoio ao cinema português e essas coisas), mas eis que hoje me aparece o anúncio do filme no Público, e estava mesmo a pedi-las:

“O melhor filme de João Canijo e um dos melhores filmes portugueses dos últimos anos” Mário Jorge Torres, Público
“Poderoso, notável, genuíno, estóico. Um filme em que o cinema se inventa, que nos devia tocar e iluminar a todos.” João Mário Grilo, “Imagens”/Visão
Entre outros elogios similares e a também, habitual profusão de estrelas na classificação.
Para além disso o filme vai ser enviado para Cannes,, como parte da Selecção Oficial. Será que os tipos responsáveis não têm medo de represálias?

Passo então à análise. Nesta malfadada quarta à noite encontrava-me frente ao ecrã mágico da sala 5 do Saldanha Residence, aguardando o filme “Noite Escura” de João Canijo. Mal sabia eu que os anúncios e antevisões seriam o prato principal da noite. E eis que começa a anunciada obra prima.
No respeitante aos aspectos técnicos da fotografia e trabalho de câmara até poderá ser que esteja envolvida alguma mestria, se tivermos em consideração que foi subordinada a escolhas conscientes sobre o modo de contar aquela história. Mas é aqui que surge o calcanhar de Aquiles, essa história revela-se insípida e sensaborona. Sim, é verdade a realidade da prostituição, das casas de alterne e da infiltração da mafia de leste nessas actividades, é uma realidade dura e merecedora de um olhar atento e sério, portanto não deverá ser abordada levianamente com um enredo inverosímil e personagens incoerentes. Problemas de guião? Problemas de direcção de actores? Ambos?
Com actuações a roçar a esquizofrenia interpretativa, que parecem uma espécie de montanha russa de emoções cuja a engrenagem não está bem engatada conduzindo ao desastre final.
Meus amigos não havia necessidade de maltratar assim a pobre da película.
Ainda dizem que o cinema português está perdido, nada disso, ele está é bem escondinho para que certos realizadores não lhe ponham as mãos em cima.

Resta salvaguardar que se trata da minha humilde opinião que vale o que vale, ou seja nem chega para um cafézinho mal tirado.

PN